A CONSTRUÇÃO DO EU SOB-REFLEXO DA FELICIDADE
Uma das
coisas mais importantes que poderá determinar o quão feliz você será na vida é
o amor próprio, o quanto gostamos, respeitamos e aceitamos a nós mesmos.
Com amor próprio
poderemos nos aceitar plenamente, com os nossos erros e acertos, coseguimos
acolher os outros, com os erros e acertos deles, e poderemos nos mostrar
inteiros e permitir aos outros que nos amem, permitirá que os outros também se
mostrem verdadeiros e sem sombras. Se existir amor próprio, seremos livres para
amar os outros.
Todos nós
precisamos de amor, precisamos ser aceitos. Mas se esse amor e essa aceitação
não partir primeiro de nós para nós mesmos, estaremos a procurar essas coisas nos
outros, colocando neles a responsabilidade pelas nossas escolhas, pelo que
sentimos, pela nossa felicidade. Certa vez alguém me disse o seguinte:
"Não me sinto confortável em expressar o que quero porque tu não permites
que eu me sinta confortável", " Nós temos falado muito nos ultimos
tempos e eu não tenho conseguido gerir outras áreas da minha vida porque você
não me deixa".
100% dos
problemas nas relações são causados por questões de comunicação. Repare que nas
duas afirmações anteriores foi usada a comunicação violenta ao invés da
comunicação não violenta desenvolvida
por Marshall Bertram Rosenberg que incentiva a prática da empatia.
Não é que
depender do outro seja ruim, não é essa linha de pensamento que quero seguir,
mas responsabilizá-lo pela nossa felicidade
e ao fazê-lo tiramos das nossas próprias mãos essa responsabilidade, nos
transformamos em vítimas do que o outro fizer de nós.
Se
precisamos loucamente do amor do outro para nos sentirmos felizes, poderemos
nos sujeitar a sermos menor que na verdade somos, apenas pela aceitação, para
nos sentirmos amados, e se imploramos tanto por essa aceitação do outro, como
teremos coragem de lhe mostrar os nossos erros?
Do amor próprio
surge a integridade, a capacidade de sermos inteiros, de se aceitar verdadeiramente como
somos e de se mostrarmos sem mascaras
com nossas qualidades e defeitos para a pessoa amada. Também surge a capacidade
de exigirmos do outro que ele nos respeite e nos aceite como somos, com as
nossas histórias, erros e acertos.
Podemos nos
perguntar por que é importante se nos mostrarmos inteiros e exigirmos aceitação. Eu responderia
com outra questão: de que maneira poderemos ser amados se aquele que nos ama
não nos conhece? Do contrário, a pessoa
não amaria a nós, e sim aquela que ela pensa que somos, amaria uma projecção de
si mesma, e se essa pessoa não tiver amor próprio, ela não poderá amar sequer a
sua própria projecção.
Exigir
aceitação não pode ser algo impositivo e autoritário demais? O que nos dá o
direito de exigir algo de alguém?
Eis aí um
ponto interessante. Nós sempre poderemos exigir dos outros o que quisermos, mas
isso não significa que os outros nos atenderão nessa exigência. Por exemplo,
podemos exigir um pai e usar todo o tipo
de artifício para forçar alguém a nos atender, mas no fim caberá ao outro
decidir por nos atender ou a recusar o pedido. Quando os outros recusarem a nos
aceitar como somos a tendência natural é que se afastem, e isso funcionará como
um filtro, que separa aqueles que nos compreendem melhor, aqueles que têm
visões de mundo semelhante, daqueles que não veem o mesmo que nós.
Aqueles que
não nos aceitarem por inteiro irão se afastar, e isso é fundamental para que
tenhamos a permissão para sermos íntegros com aqueles que são mais próximos.
Mas tenhamos cuidado com julgamentos. Aceitar alguém ou sermos aceitos não tem
nada haver com estar certo, ou estar errado, nem tão pouco com sermos melhores
ou piores. Tem a ver com afinidade e compreensão de mundo. Portanto, nunca
discriminemos ou julguemos aqueles que não nos aceitarem, e também que
entendamos que não é porque fomos aceitos que estamos certos em tudo que
fazemos. Para sermos aceitos integralmente, é preciso nos mostrarmos inteiramente, como somos, nem
melhores, nem piores, nem mais certos, nem mais errados.
É importante
perceber também que afinidade e visão de mundo estão sujeitas às experiências
que adquirimos todos os dias. Cada experiência que vivemos poderá nos
transformar numa pessoa diferente daquela que éramos antes de ter vivido essa
experiência.
Ora, se
aceitação tem a ver com afinidade e visão de mundo, então podemos não sermos
aceitos por alguém hoje, não significa que amanhã permanecerá assim, e
vice-versa, se formos aceitos hoje isso não
significa que continuaremos a ser amanhã, apesar de que, quando somos aceitos
com integridade, e da mesma forma aceitamos o outro integralmente, nos
aproximamos de tal forma desse outro que nos tornamos íntimos, confidentes, e
dividimos com ele nossas vivências. Ao fazer isso, permitimos que o outro nos
conheça cada vez melhor e que ele amadureça juntamente connosco, o que só
poderá gerar ainda mais aceitação e amor.
Se cada
vivência nos transforma em outra pessoa ligeiramente diferente, é lógico raciocinar
que eventualmente podemos nos transformar em alguém que não iremos gostar ou
aceitar. Podemos olhar para o passado e não gostar, e não aceitar quem fomos ou
o que fizemos, imagino que a esta altura das nossas vidas nós já sentimos
vergonha por algo do nosso passado. Todos nós já nos sentimos assim um dia.
Devemos
aceitar e amar a nossa própria história e cada vivência nela que nos
transformou em quem somos hoje. É sabedoria aceitar cada erro que cometemos e
entender que eles foram parte do nosso processo de aprendizado e crescimento. O
nosso passado exigirá aceitação, e se nos recusarmos a ceder sob essa
exigência, poderemos nunca ter amor-próprio, viveremos constantemente
envergonhados, a ferir e nos culpar por algo que já não podemos mudar, com algo
que já não somos.
É sempre
muito importante refletirmos sobre os nossos erros e sobre o que nos incomoda, para
que consigamos crescer para ser alguém diferente de quem éramos quando erramos.
Algo bom a respeito de nos tornarmos alguém diferente a partir de nossas experiências
só isso, podemos aceitar melhor os nossos erros quando entendemos que hoje já
somos alguém diferente de quem fomos mas não se engane, só podemos ser alguém
diferente se de facto tivermos passado por uma profunda reflexão sobre os mais
íntimos motivos que nos levaram a cometer os erros que cometemos.
E se o
ferimento não for causado por nós, e sim por outros? E se quem nos feriu é
alguém que amamos e para quem nos entregamos com total integridade?
Nesses casos
o amor próprio também poderá nos ajudar, primeiro exigindo do outro que também
nos ame e respeite e se ele não o fizer, nós poderemos não aceitá-lo mais. Mais do que isso, o amor-próprio nos permitirá
entender que, da mesma forma que devemos nos aceitar, inclusive os nossos
erros, o outro também deve aceitar a si, inclusive com os erros dele.
Essa
compaixão, que surge do entendimento de que podemos aceitar o erro dos outros,
pois, somos capazes de aceitar também os nossos próprios erros, permitirá a nós
perdoarmos aqueles que nos feriram e que estão dispostos a crescer e a se
transformar em alguém melhor.
Aceitando um
pedido de desculpas de quem mostra uma vontade genuína de mudar poderá ajudar a
essa pessoa a se aceitar melhor, estará a permitir que ela cresça, que ela
desenvolva mais amor-próprio, que ela se mostre mais inteira, assim
permitiremos que um relacionamento mais íntegro seja construído.
Sabemos que
permitir que a pessoa cresça não significa que ela o fará, mas não fazê-lo
significa que também estaremos limitados no nosso crescimento, pois, não
aceitar o erro do outro poderá significar não aceitar os nossos próprios erros,
e nada poderá ser mais duro do que não perdoar a si mesmo.
Liberando o
perdão conseguimos nos curar e atrair tudo que nós queremos.
Que esta
leitura seja profunda e reflexiva. Que estejamos todos engajados em mudar o
mundo para melhor começando por nós mesmos, com as nossas pequenas escolhas diárias conscientes, que possamos
construir um amor genuíno por nós e para o mundo.
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